Desde a redemocratização que permitiu o ressurgimento dos chamados partidos ideológicos, nenhuma sigla tem sido mais aliada do PT que o PCdoB: é o único que acompanhou os petistas em todas as oito eleições presidenciais desde 1989, a ponto de em 2018 oferecer Manuela D’Ávila para a vice de Fernando Haddad. Mas há pelo menos uma parte do PCdoB que começa a dar sinais em outro sentido: chega de atrelamento automático ao PT, que seria já parte do passado.
A voz mais vistosa dessa ala do PCdoB é a do deputado federal Orlando Silva (SP), que é pré-candidato à prefeitura paulistana sem pedir a bênção ao PT. Em entrevista publicada pela Folha de S. Paulo, Orlando foi duro com o PT e com outros setores da esquerda: “O PT é parte do passado. E o PSOL é uma espécie de PT retrô, dos anos 1980”, disse ele à Folha. Orlando entra em uma campanha com a certeza de que tem um papel a cumprir: “Vou, com a minha experiência de vida e pessoal, valorizar a minha condição de negro e debater a representatividade na política. Não serão os brancos que vão romper com o racismo estrutural”, afirmou.
Sobre as esquerdas em geral, siz que precisa ser mais humilde. É uma forma de dizer que precisa reconhecer os erros – coisa que a grande maioria dos petistas se recusa a fazer. A voz de Orlando Silva, pronunciada a partir da principal cidade do país, tem um peso dentro do PCdoB e nas esquerdas. O partido foi o principal defensor de Dilma no processo de impeachment com um empenho que superava a maior parte dos petistas. Em 2018, o PCdoB lançou Manuela como pré-candidata em um movimento que se sabia estratégico, para posterior aliança com o PT. Assim aconteceu. Mas agora a fala de Orlando parece ir além de um mero movimento combinado.
O PCdoB dá sinais de desmarcar-se da aliança automática com os petistas – e a própria candidatura de Orlando em São Paulo indica isso.(Por:Fenelon Rocha)